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De um fruto da imaginação.

  • Foto do escritor: TalkFofoca
    TalkFofoca
  • 24 de fev.
  • 4 min de leitura


De um dos meus vários embargos dentre as estações metroviárias da grande metrópole paulista, diria que é onde minha humilde habilidade se destaca, pois é o lugar em meus pensamentos pairam e viajam conforme o som do trem passando sobre os declives dos trilhos em sintonia com a imaginação do julgar sobre os passageiros que ali estão. Tenho nota que cada vez me permito pairar sobre esses pensamentos, ai de você leitor querer me julgar por tais pensamentos, garanto que há pessoas que têm o mesmo âmbito que eu.  


Veja, por exemplo, nesse dia estava de pé, mesmo com alguns assentos livres, mas muito deles perto de algumas pessoas que tiram esse meu exercício, eu observo o ambiente, o contexto e fico livre para imaginar sempre tentando passar despercebido, mas acredito que é difícil meus amigos, pois os olhares sempre retornaram. Me deixei a observar uma senhora de idade, sentada em seu devido lugar, o assento preferencial que sempre há espaço para dois passageiros, ali ela foi sozinha e a cada estação parecia olhar aguardando alguém se sentar ao seu lado, o trem naquele momento não tinha muito movimento ou pessoas, fico parado perto a porta olhando para fora e por alguns momentos passeando sobre o vagão, e por ali fiquei a observando. 



Vestia um vestido com flores e bem bordado, estava ligeiramente maquiada e usava uma bolsa minimalista, o óculos sobre a cabeça que a armação contrastava com os pelos loiros e alguns já bem brancos, não se notava marcas ou rugas, o que me fazia pensar por um momento que sua idade e sua vestimenta não parecia fazer parte com o local em que estava ou até de estar andando por transporte público. Ignoro essa informação que esse trajeto em que sigo ocasionalmente há muitas pessoas que preferem o transporte público do que sair com seu carro e ficar por horas para fazer um trajeto de 5km até o trabalho, e ela me gerou os questionamentos: “O que ela faz aqui? Será que aguarda alguém? Ela tem mais 65 anos? Ela sabe o lugar em que se encontra? Será que já andou de trem?”. Pode parecer bobagem, mas aí que está o gatilho para esse universo magnífico fluir igual a uma cachoeira que não para se fluir a água por entres as pedras e seu som avassalador subindo com aquele véu gigantesco de partículas de água sobrevoando pelo horizonte. Imagino ou pode indicar meu caro leitor que estou julgando a pessoa, fique livre para entender o que quiser… Ali está ela que fica olhando estação por estação quem há de entrar no trem, olhando para a tela do celular e às vezes para o relógio no pulso, mesmo que no painel sobre os vagões e nos telões sobre alguns assentos já mostram essa informação, espera alguém ao certo, será homem? Ou uma mulher? Uma pessoa conhecida? Nada disso meus amigos, a parte boa é sempre a quebra de expectativas que minha cabeça gera, era somente ansiedade de chegar logo na estação para seguir seu destino, pois quando a porta abriu, vi uma parte daquela inquietação ir embora. Não se pode acertar todas… 



Ainda observando me deparo com um senhor, de uns 30 e poucos, cabelo curto com a barba por fazer e com o olhar super cansado que tenta firmar a cabeça no assento do trem enquanto teu corpo cansado talvez por uma noite ruim de sono ou da mesma rotina sempre, vê que aos poucos sua cabeça sede e baixa tentando o colocar em descanso, mas ele não cede como um bravo guerreiro. Vem a tristeza, pois deve ser o começo do dia e ali está ele na primeira batalha do dia contra o sono, me pergunto: será que isso ocorre todo dia? Quanto tempo gasta para chegar em casa? Seu trabalho deve ser cansativo? Há quanto tempo vive assim? E por um momento o bravo guerreiro da manhã perde para o sono, se junta ao cavalheiro ao lado que está dormindo desde minha entrada no vagão. Essa é a realidade, talvez esse sono o alivie de um dia ruim, ou seja, único momento no dia que consiga tirar um descanso antes de chegar em casa. Já me vi nessa situação onde no trem e no ônibus ou no trem seria meu trajeto de descanso do dia, na ida e na volta, pois de casa para o trabalho gastava em média 2h, eram 4h por dia só de trajeto, muitos de vocês podem achar loucura, que é mentira, não existe isso, ali na quase na minha frente há dois homens com aquela mesma realidade que eu, quem sabe quantas horas trabalham, com o que, quantos dias? Saiba que ninguém troca o sono de casa para dormir no transporte se a causa for chegar tarde no trabalho. O engraçado foi que ambos acordaram quando anunciaram a chegada na estação ‘’Santo Amaro”. 



E então entrou ela, uma mulher belíssima, cabelos lisos curtos até o ombro, vestido verde-escuro, pouca maquiagem, mas os olhos verdes claros combinando com o retrato em lápis preto ao redor, pele morena e lábios brilhantes, por muito lugares para sentar, decidiu ficar ali em pé. Garanto meus amigos que não foi só eu que reparei a chegada poderosíssima dela, ao desviar o olhar reparei mais uns 5 rapazes vislumbrando a moça. É nesse momento que a cabeça vai longe eu diria, com os famosos ‘’e se’’, primeira de cara me pergunto: e se ela se sentar ao meu lado eu a cumprimento? E se ela não responder? Eu insisto igual ao cara emocionado? E se ela responder eu me apresento? Pergunto algo sobre ela? Para onde vai? E se ela for simpática e me responder? E se eu perguntar para ela seu nome e pedir seu telefone? Se ela aceitar? Se eu perguntar se ela aceita sair comigo, para onde a levo? E se ela aceitar e dali começar a viver um romance? Poderia me casar com ela? E se depois do casamento tivermos filhos, onde vamos morar, casa ou apartamento? O que será que ela prefere? Esses pensamentos são incrivelmente tão rápidos que de tanto pensar só a vi pela janela de fora do vagão seguindo pelo seu destino e eu para o meu, que, aliás perdi a estação era para eu descer na mesma estação que a moça que me perdi em meus pensamentos mais intrusivos, pode achar que parei de pensar nela? Muito se enganam meus amigos, pois voltei até meu destino e vim aqui lhes contar como um fruto da imaginação pode chegar longe. 





texto: Fernando Caffé


 
 
 

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